quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Talvez um dia entenda


Tirei esta fotografia numas férias em Espanha, apenas porque achei piada ao nome, e sem nenhuma intenção particular de a usar. Até hoje. Hoje estou triste. Pergunto-me o que pode levar alguém a liquidar a sua própria existência. O que pode levar alguém com 30 anos de vida a pensar que é melhor não existir. A pôr termo à vida. Durante muito tempo achei que o suicídio era um acto de cobardia. Depois achei que era preciso muita coragem. Ainda não sei bem o que é, excepto um acto de desespero. Pergunto-me o que passa pela cabeça de uma pessoa enquanto prepara este acto. Enquanto escolhe morrer de uma forma horrorosa. Será que chora? Será que ouve música? Será que não pensa sequer? E pergunto o que pode ser tão desesperante para ter uma atitude destas. Quando, aparentemente, se tem tudo. Não tudo o que existe, mas o que é preciso.

A fórmula não é assim tão difícil. O que é preciso? Resumidamente, saúde, amor, dinheiro. Nada mau, pois não? Mas mesmo quando isto existe parece que não chega.

Não basta ser saudável, não ter qualquer doença. Além da saúde temos que ser bonitos, atraentes e magros. O conceito de ter dinheiro também não é assim tão linear. Não chega ter dinheiro para pagar a prestação da casa, comida, roupa bonita e umas escapadelas de vez em quando. Não. Também é preciso um casarão com piscina, roupas in e já agora um Porshe.

E quanto ao amor? Ah, o amor… Não basta ter alguém que nos ama e a quem amamos, alguém a quem dar a mão, alguém com quem partilhar, conversar, dividir uma pizza. Isso é pensar pequeno, queremos AMOR, com as letras todas maiúsculas. Queremos estar apaixonados, ser surpreendidos por declarações inesperadas a cada instante, jantares à luz de velas todos os dias. Queremos um amante fantástico e acordar em Paris de vez em quando. Queremos que todos os dias sejam um passeio por entre as estrelas.

Simplesmente nos esquecemos de tentar ser felizes de uma forma realista, com o que temos. Queremos as estrelas, mas não nos importamos com o céu. Queremos entender o Universo mas não nos entendemos a nós próprios.  Esquecemos que não existe amor em minúsculas, que o amor  será sempre maior, ou não é amor. Esquecemos que o amor maiúsculo não é um estado de eterna euforia. Esquecemos que o amor nos completa, e que isso nos dá calma e serenidade. Esquecemos que o amor também inclui o amor próprio. Esquecemos que quando tudo isso que nos rodeia não nos satisfaz, o problema está em nós. Esquecemos que podemos pedir ajuda. Que podemos tentar. Que nada está perdido. Esquecemo-nos que a felicidade é um sentimento simples. Tão simples que por vezes nos esquecemos de a ver. A felicidade transmite paz e não turbilhões de sentimentos. Esses podem ser alegria, entusiasmo, paixão, imensas coisas mas não felicidade. Esquecemos muitas vezes que basta deixá-la entrar. Mas não. Nós queremos sentimentos fortes. Queremos sentir a adrenalina a correr, bem acelerada, queremos ficar sem fôlego. Queremos tanto tudo que nem vemos o tudo que temos.

Queremos, ou achamos que queremos, chegar ao topo da carreira. Quando não é isso que nos faz felizes. Queremos, ou achamos que queremos ter umas medidas de manequim, quando não é isso que nos faz felizes. Queremos, ou achamos que queremos um Amor, com maiúsculas, claro, mas não sabemos bem o que isso é. Devíamos olhar para nós. Devíamos pelo menos saber o que não queremos. Devíamos ser capazes de estender a mão e pedir ajuda.

Devíamos pensar que nada poderá ser tão grave ao ponto de ser superior a nós próprios. Eu sei que cada um sabe de si. Eu sei que não sei o que se passa na vida das pessoas. Mas não consigo achar que algo seja tão, tão, tão grave que não haja uma saída.

Não éramos amigas, amigas. Mas conhecíamo-nos. Cruzamo-nos muitas vezes, falamos, rimos, bebemos uns cafés e uns copos de vez em quando. Admirava-te como pessoa correcta que sempre foste e, caramba, tinhas tanta coisa boa na tua vida! Convidaste-me, embora ainda não oficialmente porque ias começar a tratar disso em Março, para o teu casamento. Já não estás cá. Estou triste. Estou zangada contigo também. A zanga vai passar. A saudade vai ficar, sempre. Como dizíamos sempre... fica bem, C. 

26 comentários:

Sonhadora disse...

Acho que não teria coragem de fazê-lo, sou medricas demais! Tenho um familiar que já tentou o sucidio, não sei qual a razão nem o que sentiu, no dia dos meus 30 anos, foi o meu presente, só me disse "queria ir para ao pé do teu primo!" e claro que eu entendi, apesar de não ser mãe, entendo que a razão de viver dela deixou de existir!
Estou como tu, não sei se é um acto de coragem ou de cobardia, depende sempre da situação. Agora uma coisa nós deviamos entender, se Deus nos deu a vida, só Ele a pode tirar, devemos rir, chorar, sofrer, mas tentar tudo por tudo superar as fases menos boas, sem recorrer ao suicido, mas claro que cada um sabe de si!
Beijocas

Lana Tavares disse...

desistir da vida é pura e simplesmente cobardia, mas mais que isso é egoismo. egoismo puro, quando se sabe que se tem alguem que vai sofrer com isso se o fizermos. eu falo por experiencia de quem ca ficou, e nao entendo nem nunca vou entender. para todos os problemas na vida, alguem ja passou pelo mesmo e ja lhe arranjou solução. basta querer encontrar. e agora vou emborinha que este assunto enerva-me =P

(nada pessoal atenção hehe)

Checa disse...

Disseste, e muito bem,cada um sabe de si.Nunca saberemos verdadeiramente o que sente cada um de nós. Nada justifica essa atitude, um acto extremo. Não acho que seja cobardia, nem coragem, nem egoísmo,prefiro acreditar em insanidade mental.Se insanidade mental pode justificar um homicídio poderá também justificar o suicídio? A dor na alma poderá ser pior que a dor física? Posso imaginar como te sentes neste momento....

Beijinhos

Phyxsius disse...

Não me ocorre mais nada a não ser :(

Mas para responder à tua pergunta, penso que não pensem sequer. Acho que o fim, para essas pessoas, é um alívio...

Nowe disse...

Querida Nirvana;
Excelente texto. Gostei muito.
Na minha opinião o "suicídio" não é um assunto linear...
Tem muito que se lhe diga, e podem ser várias causas que levam a isso.
Um simples efeito de "engolir sapos atrás de sapos", até que um dia, rebenta-se...
Podem ser também, questões do foro psiquiátrico, não sei...
Não entendo quem o faz, mas tento entender porque o fizeram...
Mas é um sentimento agonizante...
Beijinho querida Nirvana*

Gemini disse...

Lamento pela tua amiga, pelos que a amam, por ti em especial.

Quanto ao teu texto, um dia serei eu a atingir esta maturidade!
Eu e todos os que me rodeiam. Ficaria bem mais fácil se os do meu circulo bebessem desta água que aqui serves.

Um beijinho.

Pinkk Candy disse...

aloha

eu sobre o suicídio, tenho uma ideia bem definida, só o faz quem está em depressão. já ouvi médicos dizerem isso e acredito que seja verdade.

muitas vidas seriam poupadas, se essas pessoas tivessem sido tratadas (e ajudadas), às vezes só com um simples comprimido.

há tanta gente que não tem nada ou muito pouco, ou que têm graves doenças físicas, falta de membros etc.,e são felizes, e não se pensam em matar, PORQUE não sofrem de DEPRESSÃO! para mim é tão simples quanto isso!

É TRISTE!!!

XOXO

TouroCeptico disse...

Hà pouco tempo ouvi um especialista na rádio, que de forma simples e curta...explicava o porquê da nossa infelicidade...

Dizia ele, que a infelicidade é proporcional ao não atingimento das expectativas...

Quando colocamos a nós próprios expectativas sempre elevadas...é natural que nunca sejemos felizes...e nada apreciamos...ao ponto de tudo destuir e destruirmo-nos...

Libelinha☆ disse...

Assunto complicado... Também já achei que era um acto de coragem como também um acto de cobardia!... Nunca iremos saber porque fazem tal barbaridade!... Tive dois amigos que o fizeram e um deles tal como a tua amiga planeava o casamento!... Nunca entenderei tal acto!...

Eu só sei que cada vez mais amo a vida e a beleza dela está nos simples actos, nas pequenas coisas... Estas pequenas coisas que a tornam tão grandiosa!...

Beijinhos ;P

Meg disse...

Não sei que te diga! Já perdi gente por suicido, e sim, nao sei o que lhes passa pela cabeça.

Mas deve ser muito complexo..demasiado para eu poder formular algum género de opinião sobre o assunto.

C*inderela disse...

É um tema delicado! As pessoas num periodo de grande sofrimento podem cometer as maiores loucuras sem pensarem duas vezes. A morte pode ser a única opção que estas pessoas encontram quando estão numa fase de vida em que nada corre bem e que não tem sinal de melhoras. E as condições de vida de hoje cada vez mais proporcionam estes acontecimentos, numa fase em que há muitas dificuldades.
Acho que não é uma questão de cobardia ou coragem, mas sim de desespero.

Bjokas*

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Olá Nirvana
De vez em quando quando tinha tempo costumava ler alguns posts em blogues a que achava alguma piada. Não tenho blogue nem penso ter. Não tenho o dom da palavra. Estas tuas cups tornaram-se um vício diário. Não comento sempre mas arranjo sempre tempo para ler. Posts como este, uma reflexão sobre o sentido da vida. Mais uma vez consegues mostrar como é simples. Alguém falou em maturidade. Concordo em absoluto mas acho que vais mais além. Só um coração grande que sabe o que é verdadeiramente importante é capaz de compreender assim.
Muitos amigos, amigos não seriam capazes de dizer estas palavras dos seus amigos, amigos.
Permite-me que deixe um beijinho hoje

Nirvana disse...

Olá Sonhadora

Eu também não teria coragem. Acho que é assim uma coisinha má que passa na cabeça das pessoas. Entender é impossível. O que me faz mais confusão são mesmo aqueles momentos finais, que devem ser horríveis. E se se arrependem quando já é tarde? O sofrimento dos outros faz-me muita confusão, principalmente aquele que não consigo entender.
Beijinhos

Nirvana disse...

Olá Lana

Eu sei, Lana, nada pessoal. Isto foi um desabafo apenas. As perguntas ficarão sem resposta. Já achei isso tudo, e se alguém mesmo próximo, algum familiar ou amigo com quem convivesse diariamente o fizesse, ia ser muito complicado. Ia-me perguntar onde falhei, onde não vi os sinais, porque não procurou ajuda, etc, etc. Sim, é muito complicado para quem cá fica.
Beijinhos

Nirvana disse...

Olá Checa

Um momento de insanidade é de certeza. Ninguém no seu juízo perfeito faz uma coisa destas, acho eu. Nada é assim tão grave. Acho que devemos à vida o respeito por ela.
Não era uma amiga daquelas chegadas. Era uma colega-amiga, mas davamo-nos bem, conversávamos. Uma pessoa perfeitamente normal. Falei com ela há pouco tempo, estava bem, cheia de projectos...
Beijinhos

Nirvana disse...

Olá Phyxsius

Ao menos que seja assim. Isto faz-me muita confusão. Mesmo muita
Beijinhos

Nirvana disse...

Olá Invisível

Era isso que eu gostava: entender. Quando não entendo, custa-me a virar as páginas.
Também não acho que seja um assunto linear, muito pelo contrário. Acho que há perguntas que ficarão sempre sem respostas.
Beijinhos

Nirvana disse...

Gemini

Obrigada!
E não é verdade? Acho que das palavras que mais ouço é eu quero/eu queria. Eu quero uma casa bonita, eu quero ser o melhor no trabalho, eu quero um companheiro/namorado top, eu quero tudo. Ouvir eu tenho a minha casinha, que é um bocado de mim, eu tenho um trabalho em que tento fazer o melhor, eu tenho o meu amor que não é perfeito, mas é o que eu amo, sem queixas e mais queixas, eu tenho-me a mim e à minha vida para a viver.
Acho que complicamos tudo!
Beijinhos, Gemini

Nirvana disse...

Olá, Pinkk

Tens razão, às vezes quanto mais se parece ter, é quando menos se tem.
Não manifestar nenhum sintoma de depressão não quer dizer que ela não exista. Não se pode estar bem para fazer uma coisa destas!
Beijinhos

Nirvana disse...

Olá TouroCeptico

"a infelicidade é proporcional ao não atingimento das expectativas". Então porque não fazer algo tão simples como baixar a fasquia? Porquê exigir tanto de nós e dos outros? A vida já é demasiado curta sem nos massacrarmos com estas coisas!
Beijinhos

Nirvana disse...

Olá Libelinha

Somos duas, Libelinha linda!
Mas há pessoas como tu, um verdadeiro hino à beleza e alegria de viver!!
Beijinhos

Nirvana disse...

Olá, Teclas cor de Menta

Há perguntas que nunca terão uma resposta. Suposições, hipóteses, e nada mais.
Beijinhos

Nirvana disse...

Olá Cinderela

Eu também acho que é um acto de desespero. E não entendo o motivo de tal desespero. Ela tinha tudo, ou parecia, pelo menos.
Beijinhos

Nirvana disse...

Olá João

Fico feliz que gostes do que escrevo por aqui, embora haja muita asneirinha, também. Não é preciso ter o dom da palavra para ter um blogue :).
Se não acharmos que a vida tem um sentido, que andamos aqui a fazer? Se não tentarmos dar-lhe um sentido? Quando decidimos complicar as coisas só arranjamos maneira de sofrer, porque tudo o que é verdadeiro deve ser assim... simples.
Deixa beijinhos à vontade :)
Beijinhos

uminuto disse...

saio com um arrepio e uma lágrima a soltar-se do olho