domingo, 14 de junho de 2009

Férias: The end

Eu diria: Missão cumprida!


E já passaram as mini-férias. Demasiado depressa. Depois de aproveitar até ao último segundo, como se faz às migalhinhas do nosso bolo preferido que ficam no prato, cá estou de regresso à real life. Malas arrumadas, roupa a lavar e muito pouca vontade de ir trabalhar amanhã. Custa tão pouco ir! Custa tanto regressar! Não é só o regresso à rotina, ao trabalho, ao voltar a ter horas para acordar, horas para almoçar, horas para tudo... que custa. É o regresso a algumas outras coisas. Ao que nos incomoda também. Apetecia-me fazer uma viagem daquelas sem data de regresso, sem roteiro pré-definido, apenas ir. Viajar sem destino.

Assim, vou viajando por aqui, porque como dizia o poeta, a melhor maneira de viajar é sentir:

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.
Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
....
Sursum corda! Na noite acordo, o silêncio é grande,
As coisas, de braços cruzados sobre o peito, reparam
Com uma tristeza nobre para os meus olhos abertos
Que as vê como vagos vultos noturnos na noite negra.
Sursum corda! Acordo na noite e sinto-me diverso.
Todo o Mundo com a sua forma visível do costume
Jaz no fundo dum poço e faz um ruído confuso,
Escuto-o, e no meu coração um grande pasmo soluça.
.....
Sou um monte confuso de forças cheias de infinito
Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço,
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim
Não passem de mim, nem quebrem meu ser, não partam meu corpo,
Não me arremessem, como uma bomba de Espírito que estoira
Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas,
Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos.
Tudo o que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo.
Tudo o que há dentro de mim tende a despejar-me no chão,
No vasto chão supremo que não está em cima nem embaixo
Mas sob as estrelas e os sóis, sob as almas e os corpos
Por uma oblíqua posse dos nossos sentidos intelectuais.
Sou uma chama ascendendo, mas ascendo para baixo e para cima,
Ascendo para todos os lados ao mesmo tempo, sou um globo
De chamas explosivas buscando Deus e queimando
A crosta dos meus sentidos, o muro da minha lógica,
A minha inteligência limitadora e gelada.
Sou uma grande máquina movida por grandes correias
De que só vejo a parte que pega nos meus tambores,
O resto vai para além dos astros, passa para além dos sóis,
E nunca parece chegar ao tambor donde parte...
...
Dentro de mim estão presos e atados ao chão
Todos os movimentos que compõem o universo,
A fúria minuciosa e dos átomos,
A fúria de todas as chamas, a raiva de todos os ventos,
A espuma furiosa de todos os rios, que se precipitam,
A chuva com pedras atiradas de catapultas
De enormes exércitos de anões escondidos no céu.
Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio
De estar dentro do meu corpo, de não transbordar da minh'alma.
Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode,
Freme, treme, espuma, venta, viola, explode,
Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge,
Sê com todo o meu corpo todo o universo e a vida,
Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes,
Risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos,
Sobrevive-me em minha vida em todas as direções!
Álvaro de Campos, in "Poemas"

6 comentários:

Incapaz disse...

Divertiste-te, é o que mais importa.

mimanora disse...

O que é bom acaba depressa!
E sentir é mesmo o mais importante.

Boa semana!

Nirvana disse...

Olá, Incapaz
Diversão não faltou! De vez em quando faz mesmo, mesmo bem fazer um intervalo ;)

Nirvana disse...

Mimanora
Como tens razão! O tempo voa nestas alturas. Fico sempre com a sensação que mais uns dias de férias não faziam mal nenhum.
Bjks

Gemini disse...

A única coisa que os maus momentos têm de positivo, é o valor que conseguimos dar aos bons... Que se 'lixe' a quantidade de bons momentos... desde que os vivamos com toda a intensidade!!

Nirvana disse...

Gemini
Sem dúvida. Não daríamos tanto valor aos bons momentos se só houvesse bons momentos. Se calhar, iriam ser demasiado normais.
Venham muitos bons momentos e um ou outro menos bom, para quebrar a rotina :).