sábado, 28 de agosto de 2010

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Há dias em que os pensamentos se perdem e eu me perco neles, ou com eles, não sei bem. Dias em que tudo dentro de mim grita tão alto que não me consigo ouvir. Dias em que as ideias em desalinho me desalinham todos os pensamentos. Dias em que gostava de ter o poder de fazer o tempo andar para trás e mudar um instante apenas. É engraçado o poder de um instante. Um breve instante. Um momento que não volta mais, que perdemos, que passou. Um momento que nos torna prisioneiros de si próprio. Um momento que deixamos ser condicionado pela razão. Entre a razão e o coração, que vença a razão! O coração é um tonto, impulsivo, cego, surdo aos ensinamentos do passado. De cicatriz em cicatriz ele esquece-se de tudo. Memória de elefante para umas coisas, memória de recém-nascido para outras. Quando bate, não se lembra de mais nada, apenas bate. Como gosto de ti, coração! Mas, porque tento ignorar-te tanto, dando a mão à razão? Se ao menos esta me fizesse feliz!! A razão é dona do conhecimento, sábia e racional. Tem mais do que memória de elefante, tem também o seu peso, o peso de cem elefantes. E é assim que consegue enterrar bem fundo o coração. Cem elefantes pesam muito!

Por vezes penso que sou a pessoa menos amiga de mim própria que conheço. Como se me recusasse a ser completamente feliz, a fazer as coisas bem. Deixar de ser "eu", este "eu" que se resguarda de qualquer sentimento que possa fazer despertar o outro eu, aquele que mandei de férias há muito tempo, que guardei bem no fundo do baú e fechei com um código ultra-secreto, tão secreto que logo me esqueci dele. O "eu" que tem como missão deixar o outro eu num sítio perfeito, seguro, num mundo só meu, que guardo como se fosse um reino intocável. A mente é dona de estranhos caminhos e armadilhas. Armadilhas poderosas que nos mantêm ali. Nada aparece do acaso, e elas também não, mas como explicar aquilo que só nós compreendemos? Tornam-se inúteis as palavras. Não há palavras que possam fazer compreender. Nem as escritas. Escrevo porque preciso de escrever, sem saber o rumo das minhas palavras. Simplesmente escrevo. Escrevo porque há dias em que o coração grita tão alto que não me consigo ouvir. Nem a ti, razão. E nesses dias, em que não te consigo ouvir, fico perdida, perdida nos pensamentos. Nesses dias o "eu" fica contigo e não o ouço também. Nesses dias apetece-me deixá-lo aí, contigo, onde não o ouça mais.

2 comentários:

Checa disse...

Querida Nirvana,

Olá!
...como se as férias pudessem fazer o impossível!;)

Sabes, a questão que colocas também me atormenta todos os dias, sei que racionalmente devo tomar uma decisão,uma decisão que não sei se tenho coragem de tomar, ou seguir apenas o meu coração, que teima em trair-me sempre! Então qual a melhor opção? Não sei...Mas eu já desisti de lutar por uma ou outra via, vou deixar andar,deixar em aberto todas as possibilidades...

Beijinhos

S. disse...

Eu sou parecida contigo, normalmente deixo a razão superar o coração e acabo por não viver algumas coisas como devia, acabo por não ser completamente feliz. Quando o eu o M. nos cruzamos de verdade na vida um do outro (e digo de verdade porque já nos conhecíamos antes) eu vinha de uma relação em que as discussões faziam parte do menu diário, tinha dado a mim mesma um período de descanso, um tempo para estar sozinha e morria de medo de voltar a ter uma relação assim, de perder aquilo que tanto amava, o fazer o que queria quando queria sem me preocupar com ninguém.

Durante cerca de 2 anos o M. gostou de mim e insistia para que tentássemos e eu não queria porque nós já discutíamos imenso e eu não queria passar por tudo isso de novo. No entanto hoje sei que o melhor foi o momento em que parei de ouvir o que a minha cabeça me dizia e fiz o que o meu coração queria. Não sei se vamos ficar juntos "para sempre" mas isso é relativo, estamos juntos à quase 3 anos e sou muito feliz, se um dia não for cada um segue o seu caminho, mas não me arrependo de por uma vez na vida ter parado de analisar o assunto tão aprofundadamente e me ter deixado ir.

Claro que por vezes as coisas são bem mais complicadas, e nem sempre o parar de ouvir a razão é a atitude certa a tomar, mas a vida é feita de momentos e em alguns deles devemos arriscar, arriscar a sair magoadas novamente, arriscar a fazer algo só porque o nosso coração diz que sim.

Beijinhos grandes querida