Dando continuidade ao post anterior, quando chega o Natal, ainda com um ou mais meses de antecedência, já muitas pessoas se andam a "queixar" porque vem aí o Natal e vão abusar. Costumo dizer que o que me engorda não é o que como entre o Natal e o Ano Novo, mas sim entre o Ano Novo e o Natal. Até porque a maior parte dos doces não me atrai muito, e geralmente (e infelizmente) a ementa de Natal não inclui gelados.
Não morro por comida, muitas vezes esqueço-me completamente de almoçar e só quando começa a aparecer uma impressãozinha no estômago me lembro, não ando kms para ir comer isto ou aquilo a um sítio qualquer. Se for passear, aproveito, mas ir, por exemplo, de propósito à Mealhada comer o leitãozinho, não vou. Tento fazer uma alimentação mais ao menos cuidada, por razões de saúde, que são também razões de peso, mas na verdade gosto de muita coisinha que faz mal. Tenho cá para mim que, de vez em quando, não faz mal nenhum, pelo contrário. Se tenho uma bela francesinha à minha frente, não me ponho a contabilizar as calorias ou a pensar para que parte do corpo vai cada dentadinha. Espero, apenas, que vão todas para o estômago, para não me engasgar, e peço umas batatinhas fritas para acompanhar. Como, saboreando bem, até porque a minha mãe sempre me disse que é feio deixar comida no prato.
A comida é um problema no mundo de hoje, seja pelo excesso, seja pela falta, ou, melhor dizendo, pela má distribuição. Faz parte do nosso dia-a-dia. A importância que cada um lhe dá será a importância que lhe dá (não me vou pronunciar hoje sobre a falta, porque é um assunto sério).
A verdade, é que, na maior parte dos casos, se não estamos a lutar contra problemas de peso, estamos a esforçar-nos por comer as coisas certas, contabilizando tudo.
Já repararam como a comida consegue mexer com todos os orgãos dos sentidos? Olhar, cheirar, saborear, tocar (quando se pode, claro) e até ouvir, quando comemos algo estaladiço ou crocante, como dizia o Timon.
Por isso, o que eu acho é que se nos apetece comer uma determinada coisa, devemos fazê-lo sem culpa, sem pensar nas gorduras, nos hidratos de carbono, etc. Já há substitutos para tudo: chocolate sem cacau, adoçantes sem açucar, natas sem leite, pão sem farinha, massas sem massa, bolos sem açucar, hamburguers sem carne, café sem cafeína, etc, etc, etc. Fico à espera de ver em qualquer lado comida sem-comida, perfeitamente embalada. É só chegar a casa, pôr no microondas, retirar, abrir, e lá dentro virá um autocolante com um sorriso a dizer: sem hidratos de carbono, sem lípidos, sem calorias, sem nada, sem umas gramas no seu corpo. Além de ficarmos leves como umas plumas, ganhamos tempo, porque não perdemos tempo a cozinhar e a comer. Eu diria que era uma grande invenção.
Mas aí teríamos que lidar com as depressões. Por vezes, comer funciona como terapia. É muito melhor comer um chocolatinho do que tomar serotonina em comprimidos, já que o efeito é o mesmo. Eu, pelo menos, detesto tomar comprimidos. O grande problema são os excessos. É sabido que se comermos demais engordamos, gradualmente, semana após semana. Depois, quando achamos que já ultrapassamos as medidas todas, começamos a cometer o excesso contrário, comer de menos, privando-nos de nutrientes essenciais. E aqui há um factor determinante para o insucesso: quando estamos a comer, o prazer é imediato, o sofrimento é retardado e comemos mais; quando se anda em dieta, o sofrimento é instantâneo, o efeito retardado, o que gera muitas vezes insatisfação e recaídas no prazer imediato.
Se for um bocadinho rechonchuda, qual é o problema? Se me sentir mal com o meu corpo, vamos lá, vamos comer saudavelmente, fazer exercício e, se me apetecer fazer uma loucura e comer uma pizza inteirinha, de vez em quando, como, sem a seguir ir arrancar os cabelos. No dia seguinte, tenho mais cuidado.
Se for magra, como o que quiser, mas, por favor, não posso andar sempre a dizer que sou gorda e mais isto e mais aquilo. Ao fim de algum tempo, não há paciência.
Se for daquelas que posso comer este mundo e o outro, sem engordar uma grama, agradeço à natureza, à genética, e a todos que inventaram comidas fantásticas.
Por isso, se no Natal abusarmos, não há problema. O intervalo entre o Ano Novo e o Nata é bem maior!