terça-feira, 25 de agosto de 2009

The only one way out

Sou a amiga que os amigos procuram para desabafar, porque sabem que digo o que penso, independentemente de lhes agradar ou não. Porque, dizem eles, sou uma pessoa sensata. E até acho que sou, geralmente. Então, onde está essa sensatez para comigo? Porque é que, mesmo vendo que tenho de mudar, que não posso continuar assim, não consigo? Por mais que a minha cabeça racionalize, por mais que diga a mim própria que só me faz mal, por mais que diga que vou fechar esta gaveta e não a abrir mais, porque é que não o faço? Tento e tento fechar a gaveta e ela teima em abrir-se, sem eu querer. Mesmo sabendo que essa gaveta aberta impede que outras gavetas se abram. Como se estivesse dentro de uma caixa, sabendo que ela me impede os movimentos e sem conseguir sair. Como naquele espaço entre as carruagens, às voltas, sem conseguir fechar definitivamente a porta e avançar. Começo a ficar zangada comigo.

Apesar de, às vezes, juntar coisas sem utilidade, guardar coisas, ou porque me lembram algo, ou porque acho que podem ser úteis um dia, de vez em quando faço uma limpeza e deito fora as coisas inúteis, que só servem para ocupar espaço. Outras vou guardando sempre, mas porque me fazem bem, porque me lembram coisas boas. Dentro de mim, faço o mesmo. Não tenho o hábito de guardar ressentimentos, raivas, tristezas. Limpeza geral. Isto de ter a boca mais rápida do que o cérebro não tem só desvantagens, também tem vantagens. Uma delas é ter de dizer o que penso, em vez de ficar a cozinhar pensamentos negativos, dê no que der. Guardar sentimentos que nos fazem mal, sentimentos inúteis, é acorrentar a vida. Mesmo quando o sentimento é bom. E é isso que tu és. Um sentimento inútil. Vendo bem, um sentimento inútil que deveria já ter perdido a cor, o brilho, o encanto. Que já não devia ocupar o espaço que ocupa. Que deveria deixar espaço para sentimentos novos e melhores, que não consigo ter por causa desse sentimento inútil. Por isso vou pegar nessa inutilidade e atirá-la para bem longe. Vai doer. De qualquer forma, já dói. É melhor que doa tudo de uma vez do que aos poucos. Queria ser capaz de te ver sem a cor e o brilho com que eu te pintei. A culpa não é tua, é minha. Por isso estou tão zangada comigo. Às vezes deixar de pensar não chega para esquecer. Mas é um passo, e qualquer caminhada começa com um passo.


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. Se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."
Fernando Pessoa

6 comentários:

mimanora disse...

É sempre mais fácil dizer que fazer. No nosso pensamento tudo está certo e sabemos como deveriamos agir, o problema está no agir, no ter força para isso.
Engraçado, o que puseste de Fernando Pessoa, também pus há uns meses atrás e de vez em quando ía ler para me ajudar a despir a roupa!
Beijo grande;)

Gemini disse...

Não há lições de moral. Há troca de ideias, quando muito de experiências.

Sei do que falas. ÓH, se sei! A minha gaveta que teimava em não fechar, continua aberta, algures, por que se calhar tem de estar aberta muito tempo ainda... Mas eu, por agora, mudei o "móvel" completo!

"Às vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas... O tempo passa... E descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas, pequenas demais para os tornar reais!"

Bob Marley

Um beijinho!

Nirvana disse...

Mimanora
Eu sei. Há que tempos que ando a dizer o mesmo, e a voltar sempre ao mesmo sítio. A cabeça pensa, sabe; o coração é surdo e não a ouve. Bate quando não devia bater. É um chato.
O que Pessoa diz não podia estar mais certo. Não quero ficar à margem, a ver o rio passar.
Isto vai passar, tem de passar!
Beijinho

Nirvana disse...

Gemini
O que mais me deixa triste comigo é que já devia ter encontrado a chave da gaveta, tê-la fechado e deitado a chave fora. Há plantas que não nasceram para dar flores. Ficam pelas folhas. Não dão para mais. Eu consigo ver isso, "processá-lo" é que é mais complicado.
Bob Marley era um sábio. Somos nós que às vezes engrandecemos demasiado as pessoas, pintamo-las com as cores que queremos. Sonhamos demais. Tudo parece tão simples e afinal, tudo é tão complicado. Ou então não tem de ser e pronto. Mas há que saber quando se tem de dizer basta. Basta de esperar pelo que sabemos que não vai chegar nunca.
Só se vive uma vez!
Aprendi com alguém "não chores porque acabou... sorri porque aconteceu" :)
Beijinho

Soraia Silva disse...

é mais facil falar, dar a nossa opiniao, sugerir, quando as coisas nao se passam connosco.
é mais facil ver os erros dos outros, é mais facil dizer aos outros que é facil mudar, mas quando é connosco, todos esses sentimentos que fizemos crescer ou diminuir, cada atitude que tomamos, que ainda nao tomamos, as que estamos a ponderar, é o maior desafio que podemos passar, porque a nós, quando somos memso nós a passar por isso, tudo é dificil!!!

beijinho :)

Gemini disse...

"(...) Mas há que saber quando se tem de dizer basta. (...)"

http://gemini-poetryland.blogspot.com/2009/08/verbo-amar-no-futuro-mais-que-perfeito.html

(Atenta na última quadra... Pensa nela, lê-a as vezes que achares necessárias! Depois... VIVE-A!)

E agora já sabes... Não chores porque...

Um beijinho!

;))