Por vezes as vidas das pessoas são como as duas margens do mesmo rio. Partilham-no, é delas, mas elas permanecem afastadas, olhando ao longe ou olhando sempre em frente, evitando olhar para o outro lado, para a outra margem, como a outra metade do seu rio. Partilham afinidades, alegrias, tristezas, gostos, momentos. Partilham o seu rio.
Por vezes, erguem-se pontes, por obra de outrem ou da própria natureza. Acontece instintivamente, sem planos ou projectos. Por isso as espanta tanto. como elas surgem. Tanto que nem sabem bem o que fazer com elas, por vezes. Pontes que unem essas margens, por momentos, mas que depois ficam para trás, apenas sinalizando o momento, porque o rio continua o seu percurso.
Outras vezes, o rio, que inicialmente era apenas um pequeno ribeiro começa a aumentar o seu caudal, a pouco e pouco, quase sem ser percebido. Cresce, alimenta-se a si próprio, chegando ao ponto de quase transbordar. Aí, constroem-se as barragens, em que ele embate, estagna, ou volta para trás. E assim se mantém, avançando, recuando, seguindo o seu rumo, porque o tempo é assim e não perdoa, sempre avança.
As margens vão-se acompanhando, por entre subidas e descidas, trajectos mais ou menos sinuosos, mais alegres ou mais sombrios, até que o rio, esse rio que partilhavam, chega ao mar, e aí se perde, fundindo-se com outros rios, e as margens se atenuam, se distanciam, se dissolvem, desaparecem, perdem-se de vista, abandonam-se.
Os motivos porque as margens se mantiveram sempre à margem uma da outra são muitos, por vezes conhecidos, por vezes desconhecidos, por vezes esquecidos ou não reconhecidos. Não interessa. Não têm necessariamente que chorar a perda do seu rio. Este era único, e assim vai ser sempre, mesmo misturando-se com a água, com a história de outros rios, de todos os rios que, tal como ele, chegaram ao mar.
9 comentários:
Minha querida Amiga Nirvana;
Mais uma vez, um excelente texto. Transparente, bem escrito e que como sempre, passa "essência". Gostei mesmo muito minha Amiga. :O)
P.S. - Há que aproveitar e viver os momentos. Por vezes coisas aparentemente simples e banais, podem causar em nós alegrias desmesuráveis. Há que olhar e reter o que de melhor houver em cada situação.
Beijinho grande, grande, grande, grande de BIG! :o))
Muito bonito! Para mim traduz a história de um casal!
bjs
Texto lindo e tão verdadeiro... Levou-me a sítios do meu passado tão presentes...! É bom ler um texto que nos faça viajar assim, dentro de nós próprios.
Beijinhos
Adorei, se eu tenho jeito para o ponto cruz, tu tens imenso jeito para a escrita! Gosto imenso do que escreves e como escreves! O texto está simplesmente 5 estrelas, e sobretudo verdadeiro!
Beijoca grande
Muito bonito, muito verdadeiro! Devias dedicar-te somente à escrita, sabias? :) bj
Como sempre adorei cada palavra, ultimamente tenho pensado muito sobre este tema ao ver duas pessoas que eu adoro separarem-se ao fim de muito tempo... a vida é mesmo assim.
Beijinhos enormes
Considera-me um barco!... sempre entre as margens!! :D
É por textos como este que sempre volto aqui. Escreves com uma suavidade que encanta.
Um grande abraço
Muito bom post! :)
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