Sentada na mesa do café, fazendo horas para ser horas de qualquer coisa, evitava adormecer. O sono continua a ser caprichoso e a não aparecer à hora devida. Vem depois, todo contente, bater à porta quando não é benvindo.
Encontrei o meu caderninho, perdido no fundo da arca sem fundo a que chamo carteira. Há quanto tempo não o abria! Está cheio de frases, pequenos textos, tentativas tímidas de poemas, desenhos, palavras soltas, datas. Folheando-o, cheguei a uma frase que escrevi há algum tempo. Tanto, que parece uma outra vida, mas não foi assim tanto. Um ano, mais coisa, menos coisa. Leio e releio aquela frase. Tenho evitado pensar nisso. Abano a cabeça, como se de uma mosca se tratasse, sempre que aflora ao pensamento. Canto, danço, mergulho na vida, afastando para longe algo que sei que nunca afastarei. Que faz e fará sempre parte de mim. O não ter tentado. E se tivesse? Se tivesse tentado? Se tivesse dito? Se tivesse feito? A frase é simples, um cliché sobejamente conhecido. "Arrepende-te apenas daquilo que fazes". Escrevi-a, como se o acto de a escrever a pudesse transformar no acto que anunciava! Não tentei, não disse, não fiz. Ficou apenas o se. E a recordação. A recordação de algo que não fiz. A recordação do que poderia ter feito, que mais não é do que o reflexo do que perdemos por não tentarmos. O não está garantido à partida. Tentar poderá transformar esse não num talvez. Poderá confirmar o não. Mas valerá mais um não confirmado do que um talvez não tentado.
8 comentários:
Olá!
" "Arrepende-te apenas daquilo que fazes" dizes tu!!!!
hum
Eu arrependo-me mais do que não fiz :=))
Beijocas
Olá, Mjf
A ideia era precisamente essa :), a arrepender-me que fosse do que fiz, porque arrepender-me do que não fiz é muito pior. O tempo passou, a oportunidade também, e ficou o se. E o se é um chato que não nos larga!
Beijinhos :)
Tentar sempre, arriscar sempre, que mais vale um risco que correste do que um de que fugiste!
Olá,
Já tinha saudades de comentar os os vossos cantinhos.
Sabes esta reflexão e a do vestido vermelho, fizeram-me pensar... esta foi durante muito tempo uma questão que pairou por aqui...o se... não fugia do pensamento, mas voltei a ter oportunidade e esse se tornou-se real, dado o rumo, não sei se o faria de novo, mas ainda á pouco tempo deixei-o de lado e fui em frente...
Continuo achar que o "se" não concretizado não nos deixa encerrar os capítulos e é certo que não podemos voltara atrás, que pelo menos nos sirva de lição para o presente!
Um bom fim-de-semana :)
Bjinho
O facto de não teres tentado já é fazer alguma coisa... Se tomaste a decisão de não o fazer... Não vale a pena ficar presa a esse "SE"...
Pensa antes que se a vida fez com que não tentasses, com que não arriscasses é porque não o tinhas de o fazer!...
Beijinhos ;P
Querida amiga,
Se não tentarmos ficaremos sempre na eterna dúvida, e a dúvida corrói a alma. É como dizes, o não está sempre garantido, e se tal acontecer podes encerrar esse capítulo com a certeza e a consciência de que pelo menos tentaste.Eu só me arrependo do que não fiz, porque o que fiz está feito, bem ou mal já não interessa, até porque não dá para passar uma borracha e simplesmente apagar o passado, mas é sempre possível escrever um novo futuro.
Bjinho enorme
Eu arrependo-me de algumas coisas que não fiz...:( bj
Deves pensar porque não fizeste. Se fosse hoje fazias? O que te impediu há um ano continua a impedir decisões semelhantes hoje? Não fizeste isso mas fizeste outras coisas. Os se que deixamos ficar nunca têm resposta.
Um abraço
Enviar um comentário