Tirei esta fotografia numas férias em Espanha, apenas porque achei piada ao nome, e sem nenhuma intenção particular de a usar. Até hoje. Hoje estou triste. Pergunto-me o que pode levar alguém a liquidar a sua própria existência. O que pode levar alguém com 30 anos de vida a pensar que é melhor não existir. A pôr termo à vida. Durante muito tempo achei que o suicídio era um acto de cobardia. Depois achei que era preciso muita coragem. Ainda não sei bem o que é, excepto um acto de desespero. Pergunto-me o que passa pela cabeça de uma pessoa enquanto prepara este acto. Enquanto escolhe morrer de uma forma horrorosa. Será que chora? Será que ouve música? Será que não pensa sequer? E pergunto o que pode ser tão desesperante para ter uma atitude destas. Quando, aparentemente, se tem tudo. Não tudo o que existe, mas o que é preciso.
A fórmula não é assim tão difícil. O que é preciso? Resumidamente, saúde, amor, dinheiro. Nada mau, pois não? Mas mesmo quando isto existe parece que não chega.
Não basta ser saudável, não ter qualquer doença. Além da saúde temos que ser bonitos, atraentes e magros. O conceito de ter dinheiro também não é assim tão linear. Não chega ter dinheiro para pagar a prestação da casa, comida, roupa bonita e umas escapadelas de vez em quando. Não. Também é preciso um casarão com piscina, roupas in e já agora um Porshe.
E quanto ao amor? Ah, o amor… Não basta ter alguém que nos ama e a quem amamos, alguém a quem dar a mão, alguém com quem partilhar, conversar, dividir uma pizza. Isso é pensar pequeno, queremos AMOR, com as letras todas maiúsculas. Queremos estar apaixonados, ser surpreendidos por declarações inesperadas a cada instante, jantares à luz de velas todos os dias. Queremos um amante fantástico e acordar em Paris de vez em quando. Queremos que todos os dias sejam um passeio por entre as estrelas.
Simplesmente nos esquecemos de tentar ser felizes de uma forma realista, com o que temos. Queremos as estrelas, mas não nos importamos com o céu. Queremos entender o Universo mas não nos entendemos a nós próprios. Esquecemos que não existe amor em minúsculas, que o amor será sempre maior, ou não é amor. Esquecemos que o amor maiúsculo não é um estado de eterna euforia. Esquecemos que o amor nos completa, e que isso nos dá calma e serenidade. Esquecemos que o amor também inclui o amor próprio. Esquecemos que quando tudo isso que nos rodeia não nos satisfaz, o problema está em nós. Esquecemos que podemos pedir ajuda. Que podemos tentar. Que nada está perdido. Esquecemo-nos que a felicidade é um sentimento simples. Tão simples que por vezes nos esquecemos de a ver. A felicidade transmite paz e não turbilhões de sentimentos. Esses podem ser alegria, entusiasmo, paixão, imensas coisas mas não felicidade. Esquecemos muitas vezes que basta deixá-la entrar. Mas não. Nós queremos sentimentos fortes. Queremos sentir a adrenalina a correr, bem acelerada, queremos ficar sem fôlego. Queremos tanto tudo que nem vemos o tudo que temos.
Queremos, ou achamos que queremos, chegar ao topo da carreira. Quando não é isso que nos faz felizes. Queremos, ou achamos que queremos ter umas medidas de manequim, quando não é isso que nos faz felizes. Queremos, ou achamos que queremos um Amor, com maiúsculas, claro, mas não sabemos bem o que isso é. Devíamos olhar para nós. Devíamos pelo menos saber o que não queremos. Devíamos ser capazes de estender a mão e pedir ajuda.
Devíamos pensar que nada poderá ser tão grave ao ponto de ser superior a nós próprios. Eu sei que cada um sabe de si. Eu sei que não sei o que se passa na vida das pessoas. Mas não consigo achar que algo seja tão, tão, tão grave que não haja uma saída.
Não éramos amigas, amigas. Mas conhecíamo-nos. Cruzamo-nos muitas vezes, falamos, rimos, bebemos uns cafés e uns copos de vez em quando. Admirava-te como pessoa correcta que sempre foste e, caramba, tinhas tanta coisa boa na tua vida! Convidaste-me, embora ainda não oficialmente porque ias começar a tratar disso em Março, para o teu casamento. Já não estás cá. Estou triste. Estou zangada contigo também. A zanga vai passar. A saudade vai ficar, sempre. Como dizíamos sempre... fica bem, C.