Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem connosco. Por vezes não entendemos porque acontecem certas coisas. Tentamos encontrar razões, entender os motivos pelos quais coisas, situações, que eram tão certas na nossa vida desapareceram como fumo. É preciso saber quando uma etapa chega ao fim. Encerrar ciclos, fechar portas, terminar capítulos. Virar a página. Virar as costas. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram. Se insistimos em viver no passado acabamos por não viver, e em muitos casos não deixar viver. Acabamos por nos magoar e magoar quem está ao nosso lado.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora... senão, acabamos por viver num emaranhado de situações e emoções que só envenena a nossa vida. Não querer aceitar que as coisas por vezes acabam porque têm de acabar, porque até nem eram assim tão boas para nós, até nem contribuíam assim tanto para a nossa felicidade. Porque se tornaram um hábito. Quando perdemos algo ou alguém, temos aquela tendência estúpida de só recordar os momentos bons, pintar um quadro apenas com as cores bonitas e alegres, deixando o cinzento e o negro que tanto ensombraram a nossa vida esquecidos no armário.
Nada nem ninguém é insubstuível. Lembra-te que houve uma altura em que podias viver sem aquilo, sem aquela pessoa. E eras feliz. Encerrar capítulos, para se poder iniciar um novo. Fechar portas, para se poder abrir novos caminhos. Deixares de ser quem tentaste ser para te transformares em quem és. Para voltares a ser quem eras. Tornares-te uma pessoa melhor e assegurares-te que sabes bem quem és, para onde vais, ou pelo menos para onde queres ir, antes de conheceres alguém e esperares que ele veja quem tu és. Porque os olhos dos outros não vêem o interior. Não vêem o que se passa dentro de nós. Vêem o que mostramos. E o que mostramos e o que sentimos por vezes não são a mesma coisa. Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão. Para aprendermos algo.
Tal como nos comboios, em que existe aquele espaço entre uma carruagem e outra, na vida esse espaço também existe. Chama-se reflexão. Em que analisamos o que se passou, em que ainda podemos olhar para a carruagem que deixamos, em que podemos ver se não nos esquecemos de nada por lá. Depois, ou avançamos para a carruagem seguinte e continuamos a nossa viagem, ou ficamos ali, naquele espaço, que não é nada senão um espaço vazio cuja função é deixar-nos avançar. Fazê-lo ou não está nas nossas mãos.
10 comentários:
Tudo o que escreves é verdade, tem de ser mesmo assim, é o que devemos fazer, mas fazê-lo... às vezes custa.
Gostei muito do texto, da imagem do comboio e da escrita serena.
Beijitos
"...Basta você acreditar que nada acontece por acaso. Talvez seja por isso que você esteja agora lendo estas linhas. Tente observar melhor o que está a sua volta. Com certeza alguns desses sinais já estão por perto e você nem os notou ainda.
Lembre-se, que o universo sempre
conspira a seu favor quando você possui um objectivo claro e uma disponibilidade de crescimento."
Paulo Coelho
Sei de um "amigo" que estava a precisar de ler este texto...
Obrigado, Nirvana!
Mimanora
Custa, mas tem de ser feito, senão... senão ficamos sempre a olhar para trás, para onde?
Obrigada.
Beijinhos
Gemini
... que nada acontece por acaso... Ou que tudo acontece por acaso? Até hoje, não sei responder a esta questão. Inclino-me mais para a segunda. A vida é feita de acasos, de pedras soltas, poeira que à vezes assenta, outras nos fere os olhos e a alma.
Mas o que seria a vida sem esses acasos? Sem essa poeira? Um frasco vazio.
Beijinhos
Já te disse que foste mais rápida que a minha sombra?...
Este comentário não me é fácil, porque no geral concordo contigo. No entanto dizes uma coisa que vai contra um princípio que me é basilar (ui...)
Acredito no caos, e acredito consequentemente que o acaso o é enquanto fruto do que existe num determinado momento. Não vou divagar muito sobre isto levava a páginas de reflexão, e acho melhor entrar numa das carruagens, pelo sim pelo não.
Acredito consequentemente que nada ou ninguém é, de facto, substituível. Por não nos apercebermos da interacção de alguma coisa na nossa vida ou no meio ambiente, não creio que a possamos substituir. Desde as coisas boas que queremos às más que odiamos, umas e outras estabelecem-nos parâmetros, fortalecem-nos defesas, são a base da inovação.
Estão por apurar os efeitos da permanência de um assassino que tenha sido executado, em mais 10 minutos de vida que lhe dessem.
Em termos relativos, aceito as substituições, enquanto opções que temos que tomar de forma obrigatória, gratuita, por capricho, enfim... Mas em termos absolutos, não creio. Qualquer substituição terá consequências.
Se podíamos viver sem os assassinos? Podíamos, mas não era a mesma coisa...
Beijinhos!
P.S.: E sim, achei o post fantástico! :)
como eu gosto dos teus textos...
para ser sincera, o que me faz ser o que sou, o que me faz andar para a frente (nunca encerro nada na minha cabeça, porque em instantes recordo muito do passado)o que me faz sentir forte, nao foram os momentos bons que passei, com quem passei, mas sim os momentos maus por que passei... sigo em frente porque me dá gozo, porque precisei de mostrar ou sentir que era forte e capaz...
quanto aos momentos bons, ficam na memoria por mais que demore a recorda-los, mas momentos bons temos sempre e se nao é com um/a é com outro/a ou até mesmmo sozinhos :)
beijinho Nirvana
CybeRider
Pois é... ando sempre a cuscar quando há um texto teu novo para ler ;)
Agora trocaste-me as voltas :)). Nada ou ninguém é substituível. E tenho de te dar razão. O mais engraçado é que também nada ou ninguém é insubstituível. Fantástico!, agora estou a dizer coisas sem nexo, mas cá no meu português tem, e como o português é fantástico, até pode ser que faça sentido.
Dizer ninguém é insubstituível quer dizer que ninguém deve ter o poder de condicionar a vida de alguém, não contribuir para a felicidade desse alguém e continuar ali eternamente só porque se tornou um hábito, uma dependência, um dado adquirido. Se algo ou alguém nos faz mais mal do que bem (e a culpa até pode swer nossa), então o melhor é fechar a porta, avançar para a próxima carruagem, mesmo sozinha. Até porque grande parte da nossa caminhada nesta vida tem de ser feita por nós, com nós.
Mas tens razão, ninguém é substituível. Uma pessoa não substitui outra. Pode ocupar o mesmo lugar, mas não a vai substituir. Seria injusto até para com essa pessoa esperar que substitua alguém (ah ah! porque aqui, como alguém disse, estaríamos a falar de segundas opções. Segundas opções nossas. E, inevitavelmente, comparações).
Tudo o que nos acontece vai-se tornando a nossa bagagem, onde arrumamos o bom, o mau, o assim-assim. E é importante que não a esqueçamos para, como tão bem dizes, estabelecermos parâmetros, fortaceler-nos.
Afinal até tem nexo, não tem? :)
Beijinhos
Soraia
Obrigada!
"O que não me mata torna-me mais forte". Bem verdade. Rir é tão fácil, não é? Enfrentar os momentos maus é que nos põe muitas vezes à prova. É aí que vamos buscar forças não sabemos muitas vezes aonde. É aí que crescemos.
Pelo que leio no teu blog, força é o que não te falta ;)
Beijinhos Soraia
Li este post várias vezes. É preciso coragem para saber quando uma etapa chega ao fim. Constatar esse facto é o primeiro passo para seguir em frente.
Pelo que pude ler penso que ainda estás nesse compartimento entre as carruagens.
Anónimo
É um pouco complicado chamar alguém Anónimo, mas é uma opção. Já vi nomes piores :)
Temos sempre vontade, esperança de ter esquecido algo na carruagem anterior. Mas ter saído da carruagem já é muito bom :)
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