Às vezes sentimos tanto a falta de alguém, que só nos apetece tirar essa pessoa do nosso pensamento e abraçá-la, bem forte. Matar anos de saudades. Poder ouvir a sua voz mais uma vez, poder ouvir os seus conselhos, as suas histórias, poder sentar-me no seu colo mais uma vez. Poder fazê-lo sorrir mais uma vez, com um dos meus disparates. Só mais uma vez. Falta sempre mais essa vez. E se tivesse essa, faltaria mesmo assim, mais uma vez.
O meu Pai era uma pessoa um pouco reservada, séria, 15 anos mais velho do que a minha Mãe. Ela, uma verdadeira força da natureza, cheia de energia, extrovertida, um pouco mais rígida. Uma daquelas histórias... Várias vezes pensei em como eles se davam tão bem, sendo tão diferentes, como se completavam. Apesar do seu ar sério, o meu pai cativava pela sua brandura, pela sua meiguice. Eu, com a fama de teimosa que tinha, obedecia-lhe sempre à primeira, enquanto fazia birras monumentais com a minha mãe. Ele contou-me, várias vezes, um destes episódios, tinha eu 3 anitos. A minha mãe disse-me para fechar a porta e eu cismei que não me apetecia. Ralhou-me, e quanto mais ralhava menos eu me aproximava da porta. Apanhei no rabo, ó se apanhei, mas quanto mais apanhava mais a mão se fechava e fechar a porta é que não. Birra mesmo, das feias. Entretanto chega o meu pai, e ao ver aquela cena (triste, uma autêntica guerra por nada) apenas me disse "princesa, fechas a porta, se faz favor?" e eu, lavada em lágrimas, levantei-me do chão e fechei-a. "e pede desculpa à mãe". E eu pedi, mas andei zangada uns dias. O meu Pai nunca me deu uma palmada, nunca me levantou sequer a voz (a minha Mãe fazia isso pelos dois :)). E eu amava-o, e amo, tanto!
Transmitia-me calma, segurança. Sabia onde havia sempre um conselho sábio, um abraço aconchegante, um colo à minha espera. Uma das últimas imagens que tenho do meu Pai, é ele sentado no jardim, com um neto em cada perna e outro sentado no chão em frente a ele, a contar-lhes histórias de quando era novo e outras.
Tento pensar neste e noutros momentos, momentos em que ele foi feliz, para tentar ultrapassar a dor, porque dói, da saudade.
"Ele teve a sorte de quem viveu bem,
riu muito e muito amou;
de quem gozou da confiança e do amor de pessoas boas;
de quem esteve no seu lugar e cumpriu as suas tarefas;
de quem deixou o mundo melhor do que o encontrou... "
Bessie A. Stanley
Hoje foi um dia difícil. Daqueles dias em que revivemos o dia em que nos despedimos de quem amamos. Em que começamos uma vida sem eles ao nosso lado.