Quando caímos, das primeiras coisas que fazemos é tentar perceber porque e como caímos, e avaliar os estragos resultantes da queda. Não é só o tamanho da queda que é importante. Podemos dar uma grande queda e escapar sem um arranhão, ou podemos apenas tropeçar e aleijar-nos a sério. Depende da forma como caímos, da nossa maior ou menor resistência, do terreno em que aterramos, dos obstáculos que encontramos em pleno voo descendente. Dependerá também da sorte, talvez.
Muitas vezes não são os grandes obstáculos que nos fazem cair. Esses, vêem-se à distância, estamos prevenidos contra eles. Por vezes, podemos até avaliar e ver se vale a pena ou não dispender tempo e energia a ultrapassá-los, arriscar ferir-nos. Não raramente são as coisas pequenas que nos fazem cair em grande. São tão pequenas que não as vemos a não ser quando nos acertam com força, ou quando nós acertamos nelas. Nem sempre conseguimos equilibrar-nos a tempo e evitar a queda. Caímos, levantamo-nos, continuamos em frente. Mas nem sempre damos às feridas que daí resultam a atenção devida. Se os pequenos arranhões não precisam de grandes cuidados, o mesmo não acontece com as feridas maiores. Deixadas à sua sorte, podem trazer resultados não esperados. Uma ferida não tratada demora muito mais a cicatrizar. Quantas vezes parece que está quase curada e a sua crosta cai porque se encontra desprotegida, e a ferida continua por curar. Porque a ignoramos. Porque nos queremos mostrar fortes. Porque não queremos admitir mesmo para nós próprios que ela está ali. Não adianta muito, digo eu, assim como não adianta comparar as nossas quedas e as nossas feridas com as dos outros. Ferimo-nos de maneiras diferentes e cicatrizamos de maneira diferente.
Podemos não querer que a ferida cicatrize, para nos lembrar sempre que não podemos voltar a cair no mesmo sítio, ou porque gostamos de sofrer, mexendo constantemente na ferida para que permaneça ali, bem viva. Esta será, talvez, a pior forma.
Podemos esperar que, um dia, a pele esteja tão calejada que seja qual for a queda, nada lhe acontecerá. Mas, não será que a pele ao tornar-se assim tão dura não perde também a sensibilidade, a capacidade de sentir?
Ou podemos acreditar que é normal, depois de uma queda, ter uma ou outra ferida para tratar, assim como acreditar que o primeiro passo para a tratar é olhar para ela.
4 comentários:
Hoje digo obrigada por este post!
Beijinho*
Tens razão, cara Nirvana. Ignorar as feridas não as faz desaparecer.
Mais um post cheio de significado, que nos faz pensar.
Um abraço
As 'quedas', por vezes, mesmo que se esborrache o nariz, são necessárias. Sempre aprendemos alguma coisa. Poderão é demorar mais ou menos tempo a 'sarar'. Depende muito de cada um. Ainda por cima, não há mercurocromo ou 'Betadine' que lhes valha. Mas, Cara Nirvana, 'quedas' todos damos ou demos. Uns mais, outros menos. E, por vezes, temos 'queda' por quem não o merece. Enfim...c'est la vie...
Cara Nirvana,
Brindas-nos com mais um belo texto que dá muito que pensar.
Na minha opinião, o principal numa queda é a capacidade que temos em nos levantar-mos e continuar em frente, mesmo que por vezes doa muito. Mas o importante é seguirmos a nossa marcha e, acima de tudo, não nos fazermos de vitimas.
Há pessoas que cairam há imenso tempo e que ainda não se conseguiram levantar. Mas também não fazem o mínimo esforço. Ao invés, e apesar das mãos estendidas para as ajudar a levantar, continuam derrubadas e a fazerem-se passar por vítimas.
Claro que também já dei quedas. Umas maiores, outras menores. Mas tive sempre a capacidade de me levantar. Espero continuar assim...
Bjs
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