Quando alguém sobrevive a uma morte quase certa, como a queda de um avião, há quem lhe chame sorte, há quem lhe chame milagre, há quem diga que ainda não tinha chegado a sua hora. Porque dizem, ainda não cumpriram a sua missão por aqui. Porque, dizem, todos temos uma missão. Há uns anos, ao ler Ilusões, de Richard Bach, li qualquer coisa parecida com: se estás vivo, é porque a tua missão na Terra não está cumprida. Lembro-me que na altura pensei "espero cumprir a minha muito tarde" (Esperteza saloia...).
Nos últimos dias tenho pensado nisto. Ao cruzar-me com tantas pessoas na rua, no trabalho, tenho-me perguntado se todas essas pessoas se questionarão sobre o que fazem aqui. Tantas missões que andam por aí! Mas, tenho para mim, que a palavra missão não tem de ser uma palavra grande, vistosa, que atravesse continentes e oceanos. A palavra missão pode ser pequena e ter o alcance de um passo, de um abraço, de uma palavra. Muitas vezes, não são precisos grandes feitos, não são precisos grandes esforços. Muitas vezes essa missão pode ser apenas a simplicidade, o sorriso que nos espera sempre, o carinho que nos acompanha, a mão que nos ampara. Ao olhar para a vida de algumas pessoas, pode-nos parecer que fizeram pouco nesta vida. Que tiveram um papel secundário. Mas, para as pessoas cuja vida foi tocada por essa vida, esse aparente papel secundário foi primordial. Este mundo louco em que vivemos seria bem pior sem estas pessoas, anónimas para muita gente, menos para os seus.