terça-feira, 14 de setembro de 2010

Resistência...


Por vezes perguntava-se o que procurava, afinal. Chegara à conclusão que procurava o que não existia. O que não existia nela, nem em ninguém, nem  em lado nenhum. Procurava a vida, como  a  desenhara um dia, com as suas próprias mãos e os seus sonhos, num papel branco, liso e brilhante. Um a um, muitos desses sonhos ruiram, como um castelo de cartas. Não fosse tão triste, seria um espectáculo bonito de se ver. Cada carta com uma cor, caindo, arrastando consigo outra, e outra e outra, como uma chuva de mil cores que se misturavam no chão, qual puzzle abandonado. Muitas vezes pensou quando cairia a última carta, a única que teimosamente se mantinha em pé. Sabia bem que carta era aquela. Tinha sido das primeiras que tinha colocado ali, bem na base. Era a capacidade de sonhar. Durante muito tempo, essa carta ficou ali, sozinha, resistindo, sem qualquer amparo, acreditando que os sonhos irreais são tão reais como quem os sonha, como o ar que respiramos, como o sol que nos aquece a alma. 
Há muito tempo que não olhava para o papel onde fizera, um dia, aquele desenho. Tirou aquele pedaço de papel, agora amarelecido, amarrotado, com alguns pedaços em falta, do bolso. Será que a capacidade de sonhar continuava lá? Sorriu ao ver que sim. Apesar de o papel já não ser brilhante, apesar de estar amarrotado, aquela última carta continuava lá. Afinal, sem ela, nenhum sonho pode ser sonhado, nenhum sonho pode ser inventado.  Nenhum sonho pode ser vivido. Não por ela, não por ninguém, nem em lado nenhum.

11 comentários:

Checa disse...

Pois é querida Nirvana, viver é uma dádiva e há sempre alternativas mesmo quando tudo parece perdido. Todos passamos por fases na vida menos boas, a deferença está em como as vivemos, como as sentimos e ultrapassamos. O que não nos derruba torna-nos mais fortes, e é apesar disso e por isso que temos que continuar...

Beijinhos

Checa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
L'Enfant Terrible disse...

A capacidade de sonhar não se perde, por vezes perdemo-nos, isso sim, nos sonhos e daí é tão difícil sair para enfrentar a realidade!

Nowe disse...

Querida Nexita;

Este texto está absolutamente sublime! Adorei! Maravilhoso!

(Para quando o livrito? Hã?!) :)

Beijinho grande e aquele abraço irmã do meu heart*

olharbiju disse...

Para não me repetir a dizer, gostei, adorei... apenas digo:
Não preciso comentar...

Bjnhos
alice

Unknown disse...

Mais um texto espantoso e verdadeiro:) De facto sem a capacidade de sonhar é impossível estarmos vivos. Ela pode por vezes desvanecer-se, quase desaparecer, mas tem de continuar a existir! bj linda!

* disse...

Amei...:)))

S. disse...

Lindo, Lindo, Lindo... adorei querida, mesmo.

Beijinhos grandes

Anónimo disse...

Lindo este texto.
À autora digo: "Resistir já é vencer".

Crenteoptimista disse...

Não costumo comentar, mas venho cá visitar-te muitas vezes... Adoro ler-te, sabias?
Beijos

Unknown disse...

Cara Nirvana, mais um texto cheio. Tens uma capacidade única de transmitir emoções e sentimentos comuns a tantos de nós. Tens uma escrita que não cansa, leve e ao mesmo tempo carregada de significado. Muito bom este post, sublime.
Um abraço