É fácil pensarmos que sabemos as soluções para os problemas dos outros. Do lado de fora, tudo parece mais fácil, tudo parece lógico e formar uma opinião, dar um conselho, torna-se simples. Por vezes, parece-nos tudo tão fácil que nos apetece quase abanar a pessoa e dizer "como é possível não veres?" Porque há coisas que apenas a pessoa que está a passar por um determinado momento, uma fase, seja o que for, não vê. Não vê porque se encontra embrulhada numa teia que não deixa que os seus olhos vejam o que o seu coração não quer sentir. Pertencentes ao mesmo dono, estes dois orgãos vêem coisas completamente diferentes. É por isso que nós, que estamos de fora, muitas vezes achamos que vemos melhor. Porque vemos com os olhos, e com o coração focado apenas na vontade de ver os nossos amigos bem. Por vezes faço isso, penso em mim como se eu fosse um amigo meu e o que lhe diria naquele momento. Muitas vezes não gosto das respostas. Dar ouvidos ou não a essas respostas será uma decisão a tomar. Mesmo sabendo que são certas , posso teimosamente continuar a enveredar pelo caminho errado. Ou não. A decisão é minha, as consequências também.
Por vezes, queremos encontrar nos outros as respostas que apenas nós podemos ter. Procuramos o aconchego das suas palavras, e queremos, queremos tanto que alguém nos diga uma palavra mágica que faça os problemas desaparecerem, levando com eles o peso que sentimos nos ombros e no coração. Mas isso não existe. Por mais amigas que as pessoas sejam, por mais sinceras que sejam as suas palavras, por mais verdadeira que seja a sua amizade, há caminhos que só a própria pessoa pode percorrer. Nem sempre ouvimos o que queremos, mas, principalmente, poucas vezes interiorizamos o que não queremos ouvir. Apenas vemos aquilo que estamos preparados para ver, e muitas vezes essa preparação demora. Ouvimos, sabemos que é certo, mas não sentimos, não queremos sentir, queríamos outra coisa. A não ser que nos liguem à corrente e uma descarga de 1000000 de volts faça uma eliminação selectiva, não vemos, nem conseguimos aceitar o que não sentimos.
Todo este tempo depois, o que te digo é
a mesma coisa. Mas não sou eu que tenho (ou não) de acreditar nisto. És tu.
O amor... Ah! Palavra tão pequena e tão complicada! O amor não se pede, não se mendiga e muito menos se impõe. Existe, ou não existe, e quando existe não é preciso pedir, pois não? O amor não cobra, o amor dá. O amor não prende, o amor liberta. Liberta para que possas dar o melhor de ti, livremente. O amor não é sempre paixão desenfreada e beijos apaixonados. O amor também é o abraço apertado, a mão no ombro, o estar ali sem ser preciso dizer ou fazer nada, quando a simples presença é tudo. O amor também é paciência. Paciência para quando o outro não está tão bem como devia, para as pequenas falhas, para as pequenas incompreensões. O amor também é preocupação, não só com o próprio umbigo e bem-estar, mas pelo outro. É querer tomar as dores do outro como nossas, ou pelo menos partilhá-las. O amor também é companheirismo, cumplicidade, amizade. É saber ouvir, querer ouvir, e saber falar. O amor não quer uma vida perfeita, o amor quer ser a perfeição quando a imperfeição nos rodeia. O amor é tudo. Como pode o amor fazer-te sentir nada?
É fácil amar quando o caminho que se apresenta pela frente é uma auto-estrada com belas paisagens num dia de sol. Aí, qualquer carro anda. Mas não é aí que se vêem os bons carros. A qualidade de um carro vê-se pela forma como faz as curvas, como enfrenta a chuva e a neve sem derrapar, como ultrapassa os obstáculos mantendo sempre a estabilidade. Não precisa ser um carro último modelo, de pintura imaculada, cheio de extras e acessórios. Precisa ser um carro seguro. Tenho para mim que um belo Ferrari dificilmente se safaria nos Alpes antes de passar o limpa-neves. Sem dúvida, impressionaria alguns aficcionados das máquinas, mas deixaria o seu condutor apeado.
Dizem que é complicado amar. Talvez o complicado seja querer amar, apenas porque se ama aquela pessoa assim, tal como ela é. Mas isto, isto é o que eu penso. Eu, que estou de fora, que apenas vejo com os olhos. O caminho, a vida, é tua. Só tua. E só tu podes decidir que carro queres para percorrer esse caminho. E, sabes, não há mal nenhum em percorrermos parte desse caminho sózinhas.