quinta-feira, 29 de abril de 2010

Vento, ventinho, podes mudar de caminho?


Certo dia estava um senhor sentado debaixo de uma árvore, aproveitando a sua sombra, enquanto ia pensando como arranjar um dinheirito extra para consertar o telhado, cujas telhas tinham sido arrancadas pelo vento. Algum tempo depois passa a voar à sua frente uma nota de 500 euros. Ele nem se mexeu. O vizinho, que se aproximava para lhe fazer companhia, pergunta-lhe: "Ó homem, então tu não apanhas a nota?" A resposta veio prontamente: "Estou à espera que o vento mude." (adaptado de uma anedota que ouvi em tempos).

E, se o vento não mudar e lhe vier pôr a nota no colo, a culpa vai ser do vento, esse desgraçado que só soprou na direcção contrária!! Vai andar uns tempos a amaldiçoá-lo, principalmente quando apanhar com a chuva na cabeça por causa dos buracos no telhado. Não lhe ocorrerá que, se tivesse esticado o braço, ou se tivesse corrido um bocadinho, teria apanhado a nota que a providência colocara no seu caminho. A culpa não será dele, por não se ter mexido, mas sim do vento.

Talvez lhe ocorresse que era sorte a mais e o mais certo era a nota ser falsa. Supôs. Supôs que fosse falsa, mas não verificou. Supôs que fosse sorte a mais, mas porque é tão fácil aceitar o azar e tão difícil aceitar que as coisas podem correr bem? Supõe que os outros têm sorte, mesmo os que correram atrás das notas.

Não generalizando, até porque por vezes fartamo-nos de correr mas o vento sopra sempre mais veloz que o ritmo da nossa melhor corrida, acho que cada vez mais as pessoas se esquecem que será melhor esforçarem-se um bocadinho quando querem alguma coisa, que as coisas não nos caem no colo (pelo menos na maioria dos casos), que por vezes essas coisas não virem até elas se deve ao facto de não as procurarem, que a culpa não é da má sorte, do acaso, do destino, da vida. 

E, se por acaso há pessoas a quem acontecem esses golpes de sorte, a quem tudo cai no colo, vale a pena pensar em três coisas.  Primeiro,  se elas são sortudas, sorte a delas. Se eu preciso fazer por isso, é melhor que o faça em vez de ficar a olhar para a sorte dos outros, a admirá-la ou a invejá-la. Talvez não seja má ideia olhar para a minha vida, em vez de olhar para a dos outros. Segundo, por vezes, as pessoas não andam a apregoar aos quatro ventos o quanto se esforçam para obter as coisas, o que não significa que não se esforçam. Apenas encaram esse facto como algo normal e natural e não como uma missão ou um fardo pesadíssimo. Terceiro, há também, a tendência reconfortante, porque apazigua a culpa, de só ver a sorte dos outros e nunca a própria.

O vento vai existir sempre, as oportunidades, por vezes, também.  O vento vai continuar o seu caminho, indiferente. Entre ficar à espera que ele mude de direcção, enfrentá-lo ou tentar mudá-lo, a decisão é de cada um, e os únicos responsáveis pelas nossas decisões somos nós.

7 comentários:

Canhota! disse...

O vento esse será eterno...mas como nós não somos, temos mesmo é que aproveitar as oportunidades que possam surgir! O problema as vezes é que elas estão "debaixo do nosso nariz" e as deixamos escapar!!!

Um beijinho :)

Mário Rodrigues disse...

Caríssima Nirvana...Quanta razão!...
Sabes? Todos os dias temos mais uma oportunidade de sermos melhores. Possivelmente não conseguimos mudar os outros, mas podemos ser diferentes... e vivermos a vida, não com a bolsa mas vontade de lhe colher o fruto...

Um beijo

Anónimo disse...

E não é melhor lutar contra o vento do que deixarmo-nos seguir só porque é mais fácil?

Eu prefiro despentear-me a deixar passar oportunidades x)

Beijo*

Nowe disse...

" O fogo mora na pedra, o vento mora no mar. A oportunidade, essa não mora,simplesmente PASSA..." e cabe a cada um de nós agarra-la ou não. Usufruir ou desperdiçar.
Diariamente são-nos apresentadas escolhas e novas oportunidades, nós resolvemos o que queremos fazer com elas.

Beijinho enorme querida Amiga*
(nunca mais é domingo! Raios!)

siceramente disse...

Gosto de pensar na sorte da vida. Já na Bíblia se falava na sorte da vida. Tínhamos de estar preparados para quando Jesus batesse à porta.
Sempre com as pernas flectidas prontos para dar o salto! :D

Rafeiro Perfumado disse...

A sorte protege os audazes, se bem que no caso do senhor ele também, pode ter pensado em outro ditado "fácil vem, fácil vai". Consertar o telhado com algo que não fez por merecer poderia ter consequências desastrosas, daí não ter arriscado... ;)

Unknown disse...

É muito fácil e tentador arranjar um bode expiatório para os fracassos.
Tens toda a razão quando falas da sorte dos outros. Gosto da clareza com que expões as tuas razões. Deves ser uma pessoa com idéias bem definidas, só assim se consegue ter esta clareza de raciocínio.
Um grande abraço